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Vittabrevis.

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento
e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a…

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Três vezes caiu em poças de barro; três vezes levantei-o e o faria três vezes mais. O menino sabia da possibilidade de cair, de se machucar mas foi… e também, afinal, o que é a vida senão uma constante sequência de erros e levantes heroicos? O que é a vida senão uma partitura escrita a duros traços, delineada por marcas profundas, pontuada pelo doloroso silenciar? Perguntaram-me — ou perguntei-me, tanto faz — se não me canso. Ora, o amor não se cansa. O Amor espera. O amor é destemido. E a esperança, ah, essa não abandona. Troquei os medos grosseiros de perder pelas leves asas da esperança e, sonhando alto, voei. Lá do alto não há poças, ou pedras, ou tropeços, apenas a imensidão da terra e do mar. Logo conclui: pequenos desafios que nada são mediante a imensidão do mundo. Mas, como Ícaro, pendi do céu num caramboleio bobo e encontrei o chão. O sol liquefez minhas asas, mas não as que a esperança plantara em mim. Não importa quantas vezes o sol derreta minhas asas, sempre poderei voar. Diga-me, quem é você pra me dizer pra não voar? E a esperança sempre atenta, como um cavaleiro que guarda o castelo do rei, ensina-nos. E, enquanto for necessário, lutarei bravamente, até se esgotarem minhas forças, até meu último brilho de vida restar! Diz, quem é você pra me dizer pra não sonhar?

– lmc

 

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Meu menino, como você cresceu… Quase um homenzinho, mas ainda tão frágil. Lembro-me da primeira vez que abriu os olhos, da primeira vez que sorriu…Também lembro-me do primeiro arranhão, naquele tropeço que machucou-lhe a alma. Lembro-me das primeiras lágrimas, primeiras de muitas… Meu menino, porque choras? Estou contigo. Carreguei-te e sempre te carregarei. Parecias só, mas eu estive aqui. Sempre. Pequeno, sei que parece além de suas forças, sei que parece não poder conseguir… às vezes parece que peço demais para você… Você continua lindo. Te amo ainda mais que ontem. Minha criança, tudo que tenho é você, meu tesouro mais caro… Dá-me tua mão. Vamos juntos? Eu sei, pode e vai cair mais um ‘tantão’ de vezes. Mas de que importa? A cada nova queda, um novo carinho, um novo afago, uma nova chance… Não desista nunca de seguir e não deixe que NINGUÉM lhe roube as asas. Te amo.

Pai.

 

– lmc.

Alguns poucos horizontes

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A ideia da dor já perambula tranquila pela nossa cabeça, mas o coração se assusta toda vez que a encontra. A gente se sente seguro e, de repente, num solavanco da vida, tudo desaba. E tudo que nos resta são os destroços. Levamos dias, meses, anos para construir e, em segundos, se resume a ruínas. E o medo de começar de novo? De tentar encher novamente o copo que ainda guarda o gosto amargo do que se foi e não é mais? E esse íntimo desejo de voltar a ser criança e não mais crescer, não ter que enfrentar as duras dores de gente grande? Acaba que nunca deixamos de ser crianças. A idade e a altura gostam de se mostrar maiores, mas o coração, ah, esse não engana, sempre desejoso do refúgio seguro de um regaço terno. E as ruínas nos assustam, abafam em nós a faísca esperançosa do ‘começar de novo’. Mas eu aprendi… aprendi a duras dores. Eis a receita infalível: umas boas lágrimas salgadas, duas doses de solidão (ou companhia, como preferir) e uma boa música. Ah, e o essencial, olhar pra frente. Sabe, eu às vezes, quase sempre diga-se de passagem, tenho que virar as costas pra essas ruínas. Fingir que as esqueci. Fingir que não existem. Não, elas nunca deixam de existir, estarão sempre lá, mas já não terão grande significado. Ali estará erigida sua, minha histórias. Pra isso as ruínas servem, pra ser pontos turísticos do nosso coração, onde jaz a carcaça podre de uma história que abalou, mas não fez cair por completo. Pode ter criado algumas rachaduras, mas apenas isso. Ao olhar no caminho percebo quantos destroços deixei para trás, e posso sentir que ainda deixarei muitos, mas isso não me desanima. Não é que eu goste deles, só que quero mostrar para alguns transeuntes que as ruínas fazem um bom construtor.

-lmc

Meus guardados

 

Às vezes me protejo, numa couraça intransponível em meu íntimo… Lá vou me preparando para enfrentar o desconhecido, para avançar até aonde a vista não alcança. Dentro de mim, tantas flores murchas, tantas rachaduras vazando, tanta bagunça por arrumar… Sinto que o bombardear de obrigações externas não nos dão tempo para cuidar dessa parte tão dentro de nós. E assim vamos nos acostumando com o odor fétido das questões mal resolvidas e acostumando nossos olhos para não mais se incomodarem com essa bagunça. É preciso sentar no chão, arregaçar as mangas e remexer na história espalhada pelo chão. Fotos envelhecidas de pessoas que não mais são, presentes esquecidos que nunca foram dados, medos que insistem ferozmente em acobertar isso tudo. É preciso abrir as janelas, deixar o Sol brilhar… deixar que o ar limpo da decisão possa lavar o cômodo abafado do meu eu. Ainda há muita bagunça a arrumar, muita coisa pra guardar, tanta pra jogar fora, mas a decisão de fazer isso já é a metade do serviço. Se decidir por fazer, ou ser, é metade da ação. E, mesmo entre tantas coisas pesadas, existem histórias que vão te arrancar um sorriso bobo ao serem recordadas na memória, e no coração. Há sempre o belo escondido por entre as sujeiras que deixamos acumular. É preciso ousadia pra mexer no coração, e deixar renascer a chama da necessidade de ser melhor.

 

-lmc

Pequena gota

Tão pequenina a gota, com seus medos e receios. De lá do alto deveria despontar. Buscar novos horizontes, ser o que foi criada para ser. Mas isso lhe causava medo. Conhecia outras gotas, e nenhuma delas havia voltado, e era tão aconchegante sua nuvem. E era tão chamativa a possibilidade de ficar, e não ter que seguir caminho, de abrir estradas, de ser ponte. A pobre gota, assustada com essa realidade, resolver descer à pétala da flor. A flor sorriu quando a gota lhe fez cócegas. A gota viu detrás daquele sorriso floral a semente que morreu. Caiu na asa da borboleta. Tão leve, tão serena a borboleta dançou. Por trás da magnífica coreografia, os movimentos de uma desajeitada lagarta que morrera. Por fim, desceu à areia da praia. Ressequido, imóvel, infértil, o grão permaneceu silencioso. Não se deixava morrer, não poderia nascer. Dotada de um belo brilho, a gota escorreu. Era uma vez a pequena gota… Morreu a gota. Nasceu o mar. E assim a vida prossegue. Dizem que volta e meia desponta do céu mais uma medrosa pequena gota… Não queira entendê-la, não tente entendê-la. Eis a sua vida, ser tão gota e, em seu silencioso morrer, tão mar.

-lmc.

Esparadrapos

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Levanta, sai dessa fossa que insistem em te colocar… Alce voo. Semeie essas lágrimas, vai plantando, uma a uma, nesse árido caminho. Um dia, quando passarem por ai outras pessoas, com suas próprias dores, saberão… Por aí, um dia, passou um menino fraco. Rastejou-se por esse caminho um coração sozinho. Marcou o chão com suas pegadas cambaleantes, mas firmes. Vamos homenzinho, coragem… Há um mundo todo que precisa desse seu sorriso, que as lágrimas insistem em roubar para si. Vista-se de Sol, arme-se de estrelas… Existem tantos, mas tantos corações que precisam de você… No final das contas ainda é você, no final do dia a fantasia de super herói volta pra gaveta, mas ainda assim você fez a sua parte. Heroico é assumir seus esparadrapos, não esconder suas fraturas na alma… Talvez nunca conseguirá brincar novamente, talvez os machucados ardam violentamente… Mas as pessoas perceberão. Tanta sede por aí, e tantas lágrimas… Caí. Caí sim. Veja minhas mãos feridas. Mas as crianças de hoje precisarão delas. E afinal, nada que um beijinho de Mãe não resolva. Resolvi não deixar que a escuridão em mim defina quem eu sou, afinal, não há escuridão que resista à Luz… e é para Ela que vou! Ainda parado? Vamos comigo!

 

-lmc.

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O menino gostava dos desertos… Ah, como era prazeroso pra ele passar horas a fio admirando um nada tão repleto de poesia. Cada grão de areia: cada coração… Resolvia com desembaraço tantas vidas mas tinha ampla dificuldade em desatar seus próprios nós… Um pouco mais adiante ele avistou uma plantinha, o único sinal de vida naquela imensidão. Com poucos olhares analisou que não conseguiria viver muito ali, pelo calor, falta de água, falta de carinho e etc, aliás, sem etc. Aquilo borbulhou seu coração: porque aquela frágil plantinha nascera ali? Para morrer? Do que valeu sua existência? Quando se deu conta, a pequenina flor começou a falar-lhe: ah, meu pequeno, ainda aprenderás… descobrirás em cada morrer um novo existir. Aqui estava eu para te fazer entender. Talvez eu esteja aqui só para você, e se o consegui, minha existência teve sentido… Ele se despediu com as faces rubras. Compreendeu… Continuou caminhando e repetindo, como que para o mundo ouvir. Nosso passar é um ideal, nosso existir é um projeto! Valem a pena uns tantos desertos… E o menino estampou um belo sorriso nos lábios. Para ele, a partir daquele momento, não mais fazia diferença o sofrer, o chorar, o se entristecer. Ele só queria sorrir. E mostrar para o mundo o que uma pequena flor o ensinou. Por um grande ideal, até a vida serve como pagamento!

– lmc

Palavra forte

A loucura de amor é uma rica meada. Quem quer que reconheça isso não trocaria o Amor por nada: ele pode unir os Opostos e reverter o paradoxo. Declaro a verdade sobre isso: a loucura do amor torna amargo o que era doce, torna o estrangeiro um amigo, e torna o menor o mais digno.

Às vezes indulgentes e às vezes rudes, às vezes tenebrosos e às vezes brilhantes: ao liberar consolo, no medo coercitivo, no aceitar e no dar, devem aqueles que são cavaleiros errantes no Amor viver sempre aqui embaixo.

Para almas que não atingiram tal amor, eu dou este bom conselho: se não podem fazer mais, que peçam anistia ao Amor, e o sirvam com fé, de acordo com o conselho do nobre Amor, e pensem: ‘Pode acontecer, o poder do Amor é tão grande!’ Só depois que morre é que uma pessoa fica além da cura.

– Hadewijch de Antuérpia.

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‘ para duas flores lindas do meu jardim: marrie e thams!

Há que diga que é uma loucura, há quem diga que é prisão, mas eu bem sei: são asas… Há quem diga que estamos perdendo nossa vida, há quem diga que existem coisas muito melhores pra se fazer, mas eu bem sei: escolhemos a melhor parte… Há quem diga que vamos nos decepcionar, há quem diga que nossa vida será em vão, mas eu sei bem: vale a pena… Assim é a liberdade – a verdadeira -, poder escolher qualquer caminho, mas ainda assim saber qual é o certo e por ele desbravar. O peixe se escandaliza com o pássaro achando que ele não poderia assim viver sem saber que quando se tem asas e a vontade de voar podemos ir longe. TUDO nessa vida tem um preço, e vocês vão pagar um muito alto… Mas a recompensa, ah, como é suave! A saudade não vai querer ir embora, ela deveria, mas eu sei que não vai. Portanto, deixem um pouco de si… E levem um pouco de mim. E se um dia a escuridão insistir em querer plantar medo em vossos corações, lembrem-se de mim e, mesmo na distância, apertem forte minha mão. E juntos seguiremos… Livres… Prisioneiros do amor…

-lmc