Quando se está no escuro, seja por vontade própria ou por vontade própria, tudo de que se necessita é luz. Aquela Luz brincalhona, cúmplice e que por um bom tempo, creio eu que todo o tempo, foi a grande testemunha de nossos erros. Nunca se sabe o real valor de qualquer coisa quando não a tem, é aí que está encerrada a beleza. A beleza do não ter, ou melhor, do perder. Muitas vezes na nossa vida somos surpreendidos pela escuridão da gruta fria. Ali não adianta esbravejar aos ventos ou bater nas inocentes porém atentas paredes. Aquietando-se, é possível perceber a beleza. Sabe aquelas rachaduras por muitos consideradas perigosas, pois podem condenar toda a estrutura e levá-la ao chão? Aquelas pequeninas fendas que passam despercebidas pelos curiosos apressados? Elas matam a sede de Luz. A nossa sede de Luz. Vejam bem, não é o ‘ser maciço’ que nos salva, mas nossas rachaduras. As essenciais amigas que, evidenciadas, parecem grosseiros defeitos mas só na escuridão interior se mostram a ÚNICA fonte. Brotam de seu meio distorcido e de suas feias pontas os raios da Luz que tanto precisamos. E assim a Luz continua procurando, centímetro por centímetro, palavra por palavra, coração por coração as rachaduras que permitem a sua passagem. E percebam, quanto maior a rachadura, de mais Luz nos fartamos. Porém, cuidado, certas rachaduras só servem pra nos derrubar. Portanto, não devemos nunca ter medo de sermos marcados por essas singelas aberturas, se assim me permitem. Cúmplices amigas que fazem dos mergulhados na escuridão salpicados pela Luz que tanto necessitam.
-lmc